Fantástico, misterioso ou surreal, não
existe melhores adjetivos para descrever qualquer obra de Stephen King. Um bom
escritor não é qualificado apenas pela criatividade, e sim pelos vários
elementos que compõe suas narrativas, como a estrutura das frases, a escolha de
palavras e a construção dos personagens.
King é um dos poucos escritores que
consegue transformar qualquer história em algo criativo e original. Sua
principal arma são elementos corriqueiros que se transformam em reais
pesadelos. Quem mais conseguiria transformar o Plymouth Fury de Arnie
Cunnigham, na cruel Christine? Ou o alcóolatra Jack Torrance em um personagem
complexo e cheio de camadas? Assim como os exemplos anteriores, King utiliza de
um misto de terror, suspense, romance e drama na elaboração da rica trama
desenrolada no Joyland – parque de diversão.
A obra Joyland foi publicada pela Editora
Em Suma em 2015. Narrado em primeira pessoa, retrata as experiências e
histórias de Devin Jones no período em que trabalhou no parque. Virgem e sem
expectativas para o futuro, ele acreditava que sua vida se baseava na sua amada
Wendy. Mal sabia que ela estava o traindo com um colega de faculdade.
“O
ano de 1973 foi o do embarque do Petróleo da Opep, o ano em que Richard Nixon
anunciou que não era criminoso, o ano em que os atores Edward G. Robsinson e
Noel Coward morreram. Foi o ano perdido de Devin Jones Eu era um virgem de
vinte um anos com aspirações literárias. Tinha três calças jeans, quatro
cuecas, um Ford Velho (com o rádio bom), pensamentos suicidas eventuais e um
coração partido.
Que fofo, hein?” pg 8
Em um dia qualquer, enquanto folheava os
classificados do Jornal, o protagonista encontrou uma chance de trabalhar
“vendendo felicidade”. O parque era este tal lugar, repleto de histórias, que
mudaria sua vida para sempre. Reza a lenda que Linda Blair, uma jovem assassinada
cruelmente no recinto, perambula onde foi morta em busca de justiça pelo o que
lhe ocorreu, visando finalmente descansar em paz.
Um dos pontos mais interessantes do livro é
analisar a evolução de Jonesy – apelido dado ao principal pelos membros do
parque – ao decorrer de cada página. O primeiro coração partido é sempre o mais
dolorido, porém ao passar da história, nota-se a superação do problema. Além
disso, seu altruísmo e bondade é algo extremamente cativante. E é nesse
contexto de boas ações que surge Mike.
Mike é um garoto com distrofia muscular
aguda, fadado a uma vida curta e limitada. Quando conhece Jonesy, o mundo
daquele é ampliado. Certamente, a forma com que King aborda a deficiência do
garoto é maravilhosa. Sempre apontando-o com um ser iluminado – de todas as
formas possíveis – o autor ensina ao seu leitor outra maneira de encarar uma
pessoa com deficiência, juntamente a outra forma de ver a morte.
A Entertainment Weekly fez um comentário
que corresponde à essência da obra:
“Uma
das histórias mais bem escritas de King... Profunda, divertida, cheia de
reviravoltas, despretensiosa e, por fim, arrasadoramente triste.”
A
construção de cada personagem, juntamente às várias nuances da história que se
interligam de maneira espontânea, transformam Joyland em um livro único. O
assunto interessa, e a forma com que é abordado faz com a que a leitura flua
rapidamente. Desde o princípio, o rei do terror não teve como objetivo
construir apenas mais um livro de assassinato, e sim uma análise psicológica e
humana acerca do mundo em que vivemos.
Por fim, quanto à edição da obra, deveriam
ter caprichado mais. A capa de Joyland é bonita e diferente, porém, comparado
com as várias outras obras do autor publicadas pela editora, essa deixa a
desejar.
Ayllana Ferreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário