sábado, 23 de julho de 2016

Resenha | Joyland

Fantástico, misterioso ou surreal, não existe melhores adjetivos para descrever qualquer obra de Stephen King. Um bom escritor não é qualificado apenas pela criatividade, e sim pelos vários elementos que compõe suas narrativas, como a estrutura das frases, a escolha de palavras e a construção dos personagens.
King é um dos poucos escritores que consegue transformar qualquer história em algo criativo e original. Sua principal arma são elementos corriqueiros que se transformam em reais pesadelos. Quem mais conseguiria transformar o Plymouth Fury de Arnie Cunnigham, na cruel Christine? Ou o alcóolatra Jack Torrance em um personagem complexo e cheio de camadas? Assim como os exemplos anteriores, King utiliza de um misto de terror, suspense, romance e drama na elaboração da rica trama desenrolada no Joyland – parque de diversão.

A obra Joyland foi publicada pela Editora Em Suma em 2015. Narrado em primeira pessoa, retrata as experiências e histórias de Devin Jones no período em que trabalhou no parque. Virgem e sem expectativas para o futuro, ele acreditava que sua vida se baseava na sua amada Wendy. Mal sabia que ela estava o traindo com um colega de faculdade.
“O ano de 1973 foi o do embarque do Petróleo da Opep, o ano em que Richard Nixon anunciou que não era criminoso, o ano em que os atores Edward G. Robsinson e Noel Coward morreram. Foi o ano perdido de Devin Jones Eu era um virgem de vinte um anos com aspirações literárias. Tinha três calças jeans, quatro cuecas, um Ford Velho (com o rádio bom), pensamentos suicidas eventuais e um coração partido.
              Que fofo, hein?” pg 8
Em um dia qualquer, enquanto folheava os classificados do Jornal, o protagonista encontrou uma chance de trabalhar “vendendo felicidade”. O parque era este tal lugar, repleto de histórias, que mudaria sua vida para sempre. Reza a lenda que Linda Blair, uma jovem assassinada cruelmente no recinto, perambula onde foi morta em busca de justiça pelo o que lhe ocorreu, visando finalmente descansar em paz.
Um dos pontos mais interessantes do livro é analisar a evolução de Jonesy – apelido dado ao principal pelos membros do parque – ao decorrer de cada página. O primeiro coração partido é sempre o mais dolorido, porém ao passar da história, nota-se a superação do problema. Além disso, seu altruísmo e bondade é algo extremamente cativante. E é nesse contexto de boas ações que surge Mike.
Mike é um garoto com distrofia muscular aguda, fadado a uma vida curta e limitada. Quando conhece Jonesy, o mundo daquele é ampliado. Certamente, a forma com que King aborda a deficiência do garoto é maravilhosa. Sempre apontando-o com um ser iluminado – de todas as formas possíveis – o autor ensina ao seu leitor outra maneira de encarar uma pessoa com deficiência, juntamente a outra forma de ver a morte.
A Entertainment Weekly fez um comentário que corresponde à essência da obra:
            “Uma das histórias mais bem escritas de King... Profunda, divertida, cheia de reviravoltas, despretensiosa e, por fim, arrasadoramente triste.”
            A construção de cada personagem, juntamente às várias nuances da história que se interligam de maneira espontânea, transformam Joyland em um livro único. O assunto interessa, e a forma com que é abordado faz com a que a leitura flua rapidamente. Desde o princípio, o rei do terror não teve como objetivo construir apenas mais um livro de assassinato, e sim uma análise psicológica e humana acerca do mundo em que vivemos.

Por fim, quanto à edição da obra, deveriam ter caprichado mais. A capa de Joyland é bonita e diferente, porém, comparado com as várias outras obras do autor publicadas pela editora, essa deixa a desejar. 

Ayllana Ferreira

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