Existem livros que conquistam pelo
conteúdo, enquanto uns nos conquistam pelos personagens. Existem histórias que
nos ganham pelo seu escritor, e outras que conquistam simplesmente pela edição.
Os livros da Darkside pertencem à última categoria de conquista, e na maior
parte das vezes atraem o leitor por meio de seu projeto gráfico, visto que ao
reescrever e criar novas obras, a editora aposta em visuais chamativos e
atrativos para capa, incluindo edições caprichadas e bem elaboradas, sendo
estas capazes de atrair e seduzir o público.
A Menina
Submersa é um livro escrito por Caitlín
R. Kiernan, publicado em 2014 no Brasil pela Darkside Books. Com uma
narrativa psicológica, a obra retrata uma tentativa da principal, India Morgan
Phelps, de exorcizar o fantasma que a assombra e, para isso, ela narra de
maneira nada linear os acontecimentos que a levaram a crer em tal fato.
No início, o histórico familiar de Imp
(apelido dado à principal para ela mesma) é revelado como uma linhagem de
pessoas com distúrbios mentais que acabaram se matando. A narrativa da Menina
Submersa é confusa e maçante, uma vez que a personagem utiliza de suas memórias
para construir a história, como um diário. Além disso, o excesso de detalhes e
assuntos sem nexo ditos por ela provoca cansaço no leitor, inclusive, interferindo
diretamente no ritmo da leitura.
Por outro lado, da mesma maneira que a
forma escolhida para narrar pode ser considerada confusa e maçante, também é fruto
de uma genialidade e extrema perfeição na união de elementos que constituem a
personalidade da principal. Desde o início é possível perceber que ela estava
enlouquecendo, ou seja, os assuntos sem nexo e o excesso de detalhes
desnecessários constituem parte dos sintomas de sua doença.
“Lamento que você tenha cometido um erro tolo e terrível, India Morgan Phelpls, decidindo contar esta história de fantasmas tal como você a lembra, como duas narrativas separadasm como uma partícula e uma onda, o diabo e o mar azzul mais profundo, em vez de limitar-se a uma única narrativa isenta de paradoxo e contradição.” (p.87)
História vai, história vem, os fantasmas
de Imp são apresentados. Dentre eles, Eva, o quadro da Menina Submersa, a Dália
Negra, o mito da pequena sereia e a Besta de Gevaudan. Ao decorrer da obra,
todos esses são misturados e mesclados na constituição de apenas um fantasma.
Um ponto ruim da história é a própria protagonista.
É entediante e pouco carismática. A cada página que se passa, é possível sentir
mais raiva e antipatia por ela, incluindo certa rejeição a partir do momento
que é revelado o que realmente fez à Abalyn (“sua namorada”).
O final da leitura contradiz o inicio, além
de ser um misto de devaneio com excentricidade. Para algumas pessoas, é um
final genial, enquanto para outros é algo extremamente sem sentido.
Quanto à edição do livro, a Darkside
novamente trabalhou minuciosamente para que o leitor se apaixonasse pela obra
em questão. A capa é prateada e preta, parece em alto relevo, possuindo
minuciosos detalhes que fazem com que se assemelhe à capa de um diário. No
centro, há uma libélula, um dos principais elementos da história. Para mais, há
uma fita rosa-choque anexada à raiz do livro para marcar páginas, e a lateral
da mesma cor.
Os mesmos elementos despertam opiniões e
reações adversas. É possível achar a forma com que Imp escreve entediante e
monótona, ao mesmo tempo em que é possível considerá-la como algo criativo e
inovador. Pode-se gostar da história, da mesma maneira que pode acredita se
tratar de algo sem sentido.
A leitura da Menina Submersa exige um
tipo diferente de leitor, aquele que está disposto a entrar em uma reflexão com
a autora sobre o que é loucura. O livro não se trata de um mero romance, e sim
de uma análise profunda sobre a insanidade e o comportamento humano no encontro
com fantasmas. Até mesmo as mudanças de assunto desnecessárias são elementos
criados para a compreensão dos fatos, por mais que às vezes não tão
diretamente.
Ayllana Ferreira
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