sábado, 17 de setembro de 2016

Resenha | A Menina Submersa

Existem livros que conquistam pelo conteúdo, enquanto uns nos conquistam pelos personagens. Existem histórias que nos ganham pelo seu escritor, e outras que conquistam simplesmente pela edição. Os livros da Darkside pertencem à última categoria de conquista, e na maior parte das vezes atraem o leitor por meio de seu projeto gráfico, visto que ao reescrever e criar novas obras, a editora aposta em visuais chamativos e atrativos para capa, incluindo edições caprichadas e bem elaboradas, sendo estas capazes de atrair e seduzir o público.

A Menina Submersa é um livro escrito por Caitlín R. Kiernan, publicado em 2014 no Brasil pela Darkside Books. Com uma narrativa psicológica, a obra retrata uma tentativa da principal, India Morgan Phelps, de exorcizar o fantasma que a assombra e, para isso, ela narra de maneira nada linear os acontecimentos que a levaram a crer em tal fato.
No início, o histórico familiar de Imp (apelido dado à principal para ela mesma) é revelado como uma linhagem de pessoas com distúrbios mentais que acabaram se matando. A narrativa da Menina Submersa é confusa e maçante, uma vez que a personagem utiliza de suas memórias para construir a história, como um diário. Além disso, o excesso de detalhes e assuntos sem nexo ditos por ela provoca cansaço no leitor, inclusive, interferindo diretamente no ritmo da leitura.
Por outro lado, da mesma maneira que a forma escolhida para narrar pode ser considerada confusa e maçante, também é fruto de uma genialidade e extrema perfeição na união de elementos que constituem a personalidade da principal. Desde o início é possível perceber que ela estava enlouquecendo, ou seja, os assuntos sem nexo e o excesso de detalhes desnecessários constituem parte dos sintomas de sua doença.
“Lamento que você tenha cometido um erro tolo e terrível, India Morgan Phelpls, decidindo contar esta história de fantasmas tal como você a lembra, como duas narrativas separadasm como uma partícula e uma onda, o diabo e o mar azzul mais profundo, em vez de limitar-se a uma única narrativa isenta de paradoxo e contradição.” (p.87)
História vai, história vem, os fantasmas de Imp são apresentados. Dentre eles, Eva, o quadro da Menina Submersa, a Dália Negra, o mito da pequena sereia e a Besta de Gevaudan. Ao decorrer da obra, todos esses são misturados e mesclados na constituição de apenas um fantasma.
Um ponto ruim da história é a própria protagonista. É entediante e pouco carismática. A cada página que se passa, é possível sentir mais raiva e antipatia por ela, incluindo certa rejeição a partir do momento que é revelado o que realmente fez à Abalyn (“sua namorada”).
O final da leitura contradiz o inicio, além de ser um misto de devaneio com excentricidade. Para algumas pessoas, é um final genial, enquanto para outros é algo extremamente sem sentido.
Quanto à edição do livro, a Darkside novamente trabalhou minuciosamente para que o leitor se apaixonasse pela obra em questão. A capa é prateada e preta, parece em alto relevo, possuindo minuciosos detalhes que fazem com que se assemelhe à capa de um diário. No centro, há uma libélula, um dos principais elementos da história. Para mais, há uma fita rosa-choque anexada à raiz do livro para marcar páginas, e a lateral da mesma cor.
Os mesmos elementos despertam opiniões e reações adversas. É possível achar a forma com que Imp escreve entediante e monótona, ao mesmo tempo em que é possível considerá-la como algo criativo e inovador. Pode-se gostar da história, da mesma maneira que pode acredita se tratar de algo sem sentido.
A leitura da Menina Submersa exige um tipo diferente de leitor, aquele que está disposto a entrar em uma reflexão com a autora sobre o que é loucura. O livro não se trata de um mero romance, e sim de uma análise profunda sobre a insanidade e o comportamento humano no encontro com fantasmas. Até mesmo as mudanças de assunto desnecessárias são elementos criados para a compreensão dos fatos, por mais que às vezes não tão diretamente.

Ayllana Ferreira

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