De maneira muito
inteligente, o escritor cria uma fábula repleta de metáforas bem construídas
sobre uma sociedade em que o trabalhador é vitima constante da mais valia (a
riqueza que o trabalhador produz, mas pela qual não recebe). Para trazer um tom
mais bem-humorado e simples à obra, Orwell utiliza de exemplo à exploração dos
humanos a dos animais.
Um dia, no seu leito de
morte, um sábio porco da Granja do Solar disse que não era justo que os animais
trabalhassem tanto, mas não pudessem desfrutar daquilo que conseguiam. Logo,
era necessário que eles se unissem, fizessem uma revolução para expulsar os
humanos, a fim de criar uma sociedade em que todos os animais tivessem os
mesmos direitos, e fossem tratados como iguais. Essa sociedade seria denominada
como Animalismo.
“O homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o que dê para pegar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais.”
Os animais, concordando
com a realidade exposta pelo porco, decidiram se unir, e expulsaram o
fazendeiro Jones de suas terras. A partir daí, o Animalismo – referência ao
Socialismo – seria a forma com que a granja seria organizada, tendo como leis
uma série de mandamentos escritos na parede, semelhantes àquilo que o sábio
havia dito.
Como o sábio era um porco,
foi decidido que os porcos iriam governar esse novo sistema, uma vez que foram
considerados como mais inteligentes. Feito isso, os representantes dos porcos –
Napoleão e Bola-de-Neve - decidiram que iriam estudar para serem os melhores
governantes possíveis, começando a se alfabetizar e ler uma série de manuais e
livros que tinham na casa de Jones.
A construção dos
personagens é fabulosa. Desde o início, vemos que Napoleão é o clássico tirano,
disposto a tirar vantagem de tudo, enquanto Bola-de-Neve tem um senso mais de
justiça. Além desses, vários outros personagens são apresentados, como Sansão,
o cavalo extremamente trabalhador, mas ignorante; Garganta, o porco que ilude
as pessoas pela lábia; e Quitéria, uma égua sonhadora, mas também ignorante.
De início, todos os
animais eram iguais. A comida era racionada de maneira igualitária, e os
animais eram iludidos com o sonho de ter um futuro em que precisariam trabalhar
menos, e curtir mais o fruto do que produziram por anos. A proposta inicial era
que todos os animais fossem alfabetizados, porém, a grande maioria não conseguia
nem aprender da letra A à D do alfabeto.
Napoleão,
aproveitando da ignorância dos outros animais, começa a abusar da igualdade,
criando benefícios e vantagens aos seus semelhantes. Bola-de-Neve não concorda
com isso e, um pouco depois, é expulso da Granja dos Bichos – renomeação da
Granja Solar – além de ser acusado de conspirar com Jones.
A
história vai passando, e a cada página, fica mais claro que os porcos não estão
dispostos a agir de maneira igualitária. Outro ponto bem elaborado pelo autor é
a alienação dos ignorantes, visto que aqueles começam a alterar os mandamentos
da Granja, já que os animais não conseguiam ver a diferença dos escritos por
não conseguirem ler.
“Todos os bichos são iguais,Mas alguns são mais iguais do que outros.”
A narrativa do escritor é
espetacular. A história fluí de início ao fim. É aquele clássico clichê de que
o simples pode ser tão bom, ou até melhor que o rebuscado. Um exemplo disso é a
escolha de personagens e de metáforas. A escolha dos porcos foi sensacional, e
a forma com que eles são abordados na história reflete diretamente em vários
governantes da atualidade.
“Arrepiados, os animais estacaram. Era a voz de Quitéria. Ela relinchou outra vez, e os bichos dispararam a galope para o pátio. Viram, então, o que ela vira. Um porco caminhava sobre as duas patas traseiras.”
O final da obra é sensacional. Mesmo
sem ter uma moral escrita como nas fábulas infantis, é claro que tem um
ensinamento por trás de tudo aquilo. A Revolução dos Bichos é um clássico
exemplo de livros que as pessoas deveriam ler, pois é fundamental para
compreender a forma como a sociedade é organizada, além de romper com certos
preconceitos.
Por fim, em algumas edições, no
final da obra, é possível encontrar dois prefácios construídos pelo autor. Para
os que estiverem dispostos a compreender todas as metáforas, e o contexto
histórico da época que o livro foi escrito, é essencial que façam essa leitura.
Por Ayllana Ferreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário