sábado, 5 de novembro de 2016

Resenha: A Revolução dos Bichos

A Revolução dos Bichos é um livro escrito por George Orwell em 1945 no contexto entre Guerras – Primeira e Segunda Guerra Mundial. Por ser uma obra de denúncia, seu lançamento só foi possível muitos anos depois, já que os governantes da época queriam manter a população alienada, sem compreender a realidade por trás da sociedade não igualitária. No Brasil, a obra foi traduzida pela Companhia das Letras.


De maneira muito inteligente, o escritor cria uma fábula repleta de metáforas bem construídas sobre uma sociedade em que o trabalhador é vitima constante da mais valia (a riqueza que o trabalhador produz, mas pela qual não recebe). Para trazer um tom mais bem-humorado e simples à obra, Orwell utiliza de exemplo à exploração dos humanos a dos animais.
Um dia, no seu leito de morte, um sábio porco da Granja do Solar disse que não era justo que os animais trabalhassem tanto, mas não pudessem desfrutar daquilo que conseguiam. Logo, era necessário que eles se unissem, fizessem uma revolução para expulsar os humanos, a fim de criar uma sociedade em que todos os animais tivessem os mesmos direitos, e fossem tratados como iguais. Essa sociedade seria denominada como Animalismo.
“O homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o que dê para pegar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais.”
Os animais, concordando com a realidade exposta pelo porco, decidiram se unir, e expulsaram o fazendeiro Jones de suas terras. A partir daí, o Animalismo – referência ao Socialismo – seria a forma com que a granja seria organizada, tendo como leis uma série de mandamentos escritos na parede, semelhantes àquilo que o sábio havia dito.
Como o sábio era um porco, foi decidido que os porcos iriam governar esse novo sistema, uma vez que foram considerados como mais inteligentes. Feito isso, os representantes dos porcos – Napoleão e Bola-de-Neve - decidiram que iriam estudar para serem os melhores governantes possíveis, começando a se alfabetizar e ler uma série de manuais e livros que tinham na casa de Jones.
A construção dos personagens é fabulosa. Desde o início, vemos que Napoleão é o clássico tirano, disposto a tirar vantagem de tudo, enquanto Bola-de-Neve tem um senso mais de justiça. Além desses, vários outros personagens são apresentados, como Sansão, o cavalo extremamente trabalhador, mas ignorante; Garganta, o porco que ilude as pessoas pela lábia; e Quitéria, uma égua sonhadora, mas também ignorante.
De início, todos os animais eram iguais. A comida era racionada de maneira igualitária, e os animais eram iludidos com o sonho de ter um futuro em que precisariam trabalhar menos, e curtir mais o fruto do que produziram por anos. A proposta inicial era que todos os animais fossem alfabetizados, porém, a grande maioria não conseguia nem aprender da letra A à D do alfabeto.
            Napoleão, aproveitando da ignorância dos outros animais, começa a abusar da igualdade, criando benefícios e vantagens aos seus semelhantes. Bola-de-Neve não concorda com isso e, um pouco depois, é expulso da Granja dos Bichos – renomeação da Granja Solar – além de ser acusado de conspirar com Jones.
            A história vai passando, e a cada página, fica mais claro que os porcos não estão dispostos a agir de maneira igualitária. Outro ponto bem elaborado pelo autor é a alienação dos ignorantes, visto que aqueles começam a alterar os mandamentos da Granja, já que os animais não conseguiam ver a diferença dos escritos por não conseguirem ler.
“Todos os bichos são iguais,Mas alguns são mais iguais do que outros.”

            A narrativa do escritor é espetacular. A história fluí de início ao fim. É aquele clássico clichê de que o simples pode ser tão bom, ou até melhor que o rebuscado. Um exemplo disso é a escolha de personagens e de metáforas. A escolha dos porcos foi sensacional, e a forma com que eles são abordados na história reflete diretamente em vários governantes da atualidade.

“Arrepiados, os animais estacaram. Era a voz de Quitéria. Ela relinchou outra vez, e os bichos dispararam a galope para o pátio. Viram, então, o que ela vira. Um porco caminhava sobre as duas patas traseiras.”

            O final da obra é sensacional. Mesmo sem ter uma moral escrita como nas fábulas infantis, é claro que tem um ensinamento por trás de tudo aquilo. A Revolução dos Bichos é um clássico exemplo de livros que as pessoas deveriam ler, pois é fundamental para compreender a forma como a sociedade é organizada, além de romper com certos preconceitos.

            Por fim, em algumas edições, no final da obra, é possível encontrar dois prefácios construídos pelo autor. Para os que estiverem dispostos a compreender todas as metáforas, e o contexto histórico da época que o livro foi escrito, é essencial que façam essa leitura.
Por Ayllana Ferreira

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