“SOBREVIVER É APENAS O COMEÇO”.
Na
literatura, as distopias são caracterizadas por um universo fictício, geralmente
pós-guerra, governados por ditadores em regimes totalitários, no qual os
membros têm seus direitos e sua liberdade limitados a fim de melhorar o
bem-estar coletivo. Atualmente, várias novas histórias seguindo este padrão estão
caindo nas “graças do público”, como as franquias Divergente, Jogos Vorazes,
Maze Runner, Delírio, Starters, dentre várias outras.
Starters é um livro de ficção
científica, escrito por Lissa Price e publicado pela Editora Nova Conceito em
2012. No prólogo, a “Guerra de Esporos” está acontecendo, sendo responsável pela
disseminação de um vírus extremamente mortal. Assim, visando à sobrevivência da
espécie humana, o Governo decide vacinar a população mais frágil e menos capaz
de sobreviver à doença, ou seja, as crianças/adolescentes (Starters) e os
idosos (Enders). Porém, os danos da guerra foram muito maiores do que o
imaginado, matando todos que não haviam sido vacinados. Dessa maneira, em pouco
tempo, parte dos humanos havia morrido, restando apenas Enders e Starters nessa
nova sociedade.
É nesse contexto que surgem Callie e
Tyler, dois irmão que após terem seus pais mortos pela doença, precisam
batalhar todos os dias a fim de sobreviver, enfrentando a fome, o perigo “dos
marginais”, e o próprio governo que quer recolhê-los e levá-los para uma
instituição.
Tyler é o caçula, e com apenas 7 anos,
não se lembra quase nada do mundo anterior à Guerra de Esporos. Quando mais
novo, o menino foi diagnosticado com uma doença grave que se tratada
corretamente, não é fatal. Porém, os dois irmãos vivem na rua e na extrema
miséria, o que torna baixas suas chances de cura ou sobrevivência. De certa
maneira, o personagem é uma das principais figuras de inocência da obra, já que
mesmo com problemas de saúde, ele ainda é alegre e esperançoso, além de
extremamente crente e amoroso com sua irmã.
Callie é a principal da obra, aquela típica
personagem com espírito de heroína, disposta a passar pelo céu e o inferno para
proteger o seu irmão. Ao longo das páginas, é possível notar seu
amadurecimento, além de demonstrações constantes da força e bondade presentes
em seu comportamento. Uma das características que a diferenciam das
protagonistas tradicionais é que, apesar de toda sua empatia e bondade com
aqueles que ama, a personagem não é aquele clichê que cansa o leitor, agindo
sem pensar na maior parte do tempo, e de maneira extremamente dramática.
Outro ponto interessante de Callie é que
mesmo tendo se transformando em uma “mãe” para o seu irmãozinho, Price
retratou-a com uma menina, uma típica adolescente sonhadora, que deseja ser
feliz e encontrar o seu príncipe encantado. Por trás da garota batalhadora,
existe uma menina normal, que faz escolhas erradas, se apaixona pelo melhor
amigo, e logo depois vive um triângulo amoroso. Sofre desilusão, mas continua
forte, e batalhando por aquilo que acredita. Esse é um dos principais pontos
que tornam Callie uma protagonista única e inspiradora.
"Durante todo aquele tempo, pensei que eu fosse a fraude, a camponesa fingindo ser uma princesa. Mas, na verdade, quem estava disfarçado era o príncipe. Durante todo aquele tempo, havia um ogro disfarçado de príncipe. Em meu mundo, nada era o que parecia. E eu não sabia se conseguiria voltar a confiar em alguém."
No início da obra, ela está desesperada
para salvar seu irmão, disposta a se submeter a qualquer atrocidade para
dar-lhe um lar e tratar sua doença. Após ouvir de um vizinho sobre um local que
contrata Starters (Prime Destination), a menina decide arriscar sua vida para
conhecê-lo e conseguir uma chance de sobrevivência para seu irmão.
A Prime Destination é uma instituição em
que os jovens oferecem seus corpos para aluguel. Em outras palavras, os
Starters oferecem seus corpos jovens e sadios para que os Enders possam habitá-los
por certo tempo e relembrar como é ser jovem novamente (os dois trocam de
mentes, o corpo do Ender fica desanimado e sua mente no corpo do Starter,
enquanto a mente do Starter fica congelada em um sonho e o seu corpo alugado).
"Ouvir aquelas palavras fez com que tudo parecesse real. Aqueles Enders velhos e caquéticos, com braços e pernas tomados pela atrite, toando o controle do corpo daquela adolescente durante uma semana, vivendo dentro de sua pele. Meu estômago começou a se revirar. Eu queria sair correndo, mas uma ideia me mantinha ali. Tyler."
Vendo que aquela era a única chance de
conseguir dinheiro e permitir que seu irmão sobrevivesse, Callie se oferece
para o banco de corpos, e se submete aos aluguéis. Os primeiros foram
completados sem problema algum, para a garota, não foi nada mais que um sonho.
Porém, no último, esta acorda no meio, e com uma arma na mão. Desesperada, e
sem saber o que fazer, a principal começa uma busca por respostas. Alternando a
consciência com a Ender que está alugando-a, a menina começa a descobrir as intenções
e a verdade por traz da instituição que lhe contratou.
Certamente, um dos pontos mais
interessantes do exemplar é ver a criatividade e a inovação ao longo de cada
página. Apesar de possuir algumas ideias que parecem semelhantes às de outras
distopias, quando observado com mais atenção, esta é original e cheia de
peculiaridades. A narrativa é eletrizante, sendo impossível parar de ler logo
após seus momentos iniciais.
Seu final é clichê e previsível, mas
isso não torna a história menos surpreendente ou única. Mesmo sendo a
finalização de um arco de histórias, a autora conseguiu deixar espaço para
especulações e novos inícios, que são narrados na sequência do livro, intitulada
Enders. Com o fim da leitura, novos questionamentos surgem, podendo motivar o
leitor a comprar sua continuação.
Por fim, a edição do livro é
encantadora. Com cores metalizadas e detalhes em alto relevo, a capa da obra
possui uma figura pixelada de uma mulher, possivelmente da protagonista,
tornando-se uma arte única e bem diferente das tradicionais.
Por Ayllana Ferreira
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