quarta-feira, 18 de maio de 2016

Resenha | Confissões de uma Garota Excluída, Mal Amada e (um pouco) Dramática, de Thalita Rebouças

Teanira tem pavor do nome que os pais escolheram para ela, mas esse é apenas um dos muito problemas que tem na vida. Tetê, como prefere ser chamada, é uma adolescente que se muda da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, para Cobacabana, Zona Sul da cidade, quando o pai perde o emprego e a família precisa ir morar com outros parentes. Às vésperas de começar o ensino médio, ela precisa lidar com a pressão de sempre ter sofrido bullying por vários motivos - cheiro, peso, cabelo, dentes... Tetê mudaria muita coisa em si.

Thalita Rebouças é um fenômeno da literatura infantojuvenil nacional. Em seu primeiro livro publicado pela Editora Arqueiro, Confissões de uma Garota Excluída, Mal Amada e (um pouco) Dramática, ela aborda um tema inédito em suas narrativas: bullying. Famosa por criar os conhecidos ambientes familiares divertidíssimos que geram as tramas para vários de seus livros, Thalita inova com a história de Tetê. Nela, a pressão que a sociedade exerce sobre todo adolescente é um dos aspectos mais evidentes.
"Adolescentes cruéis são cruéis em qualquer lugar."
                Tetê é, acima de tudo, uma adolescente real. Muitos dos dramas narrados pela personagem podem ser identificados no cotidiano de qualquer colégio de ensino médio. As paranóias e preocupações que permeiam a narrativa são reconhecidas facilmente por qualquer pessoa que já tenha, uma vez na vida, pisado em uma sala de aula cheia de adolescentes. É fácil se relacionar com a protagonista, mas não é apenas com ela que o leitor simpatiza. Em vários momentos, surge a vontade de entrar na história e viver momentos divertidíssimos ao lado do espalhafatoso Zeca, ou compartilhar dos sentimentos profundos dos delicados Davi e Dudu. Para alguém que passou grande parte da vida sem um amigo sequer, Tetê consegue – sem dúvidas – sentir novas experiências e emoções ao mudar de colégio e encontrar colegas novos.
"Eu acho a vida uma enorme injustiça."
                Estão presentes, também, os  clichês de qualquer história em ambiente escolar: o menino sarado que é bonito demais para ser verdade, o palhaço da turma, a menina popular que anda cercada das melhores amigas e se acha superior aos outros e a simpática que se aproxima da protagonista em momentos de necessidade. O mais incrível, no entanto, é o clichê principal: o da garota excluída. Como o próprio título do livro já anuncia, Tetê é um clichê ambulante, no melhor sentido da palavra. Ela vive na situação de insegurança na qual todo adolescente um dia se viu. É possível sentir, nas descrições dela, uma empatia enorme, resultado da identificação imediata que as características da personagem causam. Thalita explora, na obra, o que é ser um clichê, o que é viver no extremo da adolescência e como resolver os conflitos que nela surgem.
"Se eu tivesse amigas eu mandaria pelo Whatsapp um texto bem legal para nosso grupo de BFFs (o sonho da minha vida)"
                O enredo é divertido e bem elaborado, assim como os personagens que, de tão bem construídos, ganham a capacidade de fazer rir, chorar e querer abraçar em diferentes momentos. A ambientação da narrativa é um elogio a qualquer carioca (ou conhecedor do Rio de Janeiro): a cidade é homenageada em todos os momentos, pontos marcantes na história são facilmente reconhecidos pelos leitores. A escrita é característica da autora, deixando sempre um gosto de “quero mais” e, ao mesmo tempo, descontraindo e tratando com leveza e bom humor os assuntos.
"Amigo é mais importante que bigode e sovaco, fato."   
   O livro é recheado, também, de receitas culinárias. Todas elas são mencionadas por Tetê ao longo dos capítulos, e a garantia é de que a maioria pode ser feita por qualquer pessoa. São indicados ingredientes, modo de preparo e nível de dificuldade, que inicia em “requer dois neurônios”. A interação com o leitor é algo inédito nas obras de Thalita, mas com certeza já é hábito na vida pessoal da autora. Presente e ativa na maioria das redes sociais, ela se orgulha do contato diário com os fãs. As menções constantes a vários aspectos cotidianos dos leitores são frutos de pesquisa direta feita ao longo do processo de produção do livro. Um exemplo são as músicas tristes citadas pela autora, todas indicadas por leitores que entraram em contato com ela na época do desenvolvimento do livro. Talvez seja esse um dos motivos de entender tão bem os adolescentes – e transpassar com tanta maestria as características para seus personagens.
Paula Prata

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