sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Resenha | A Estrada da Noite

Com 44 anos, Joe Hill é um dos principais nomes no assunto de histórias de horror da nova geração. Vencedor de vários prêmios, incluindo dois Bram Stoker – prêmio mais importante para literatura de terror -, o escritor de “O Pacto”, “Estrada da Noite”, “Nosferatu”, dentre várias outras obras, ficou conhecido após mesclar elementos de ficção com personagens sobrenaturais com extrema perfeição, além da construção de narrativas que analisam a fundo o psicológico de cada personagem.


Quando começou a escrever, o “jovem sucesso” optou por um pseudônimo, escondendo sua identidade por cerca de 10 anos, até que um dia foi revelado que Joe Hill era na verdade Joseph King, ou seja, filho de Tabitha King e Stephen King.
A Estrada da Noite é um livro lançado 2007, traduzido e publicado pela editora Sextante no Brasil.  O livro retrata a perseguição de um fantasma à um ex-astro do rock, acusando-o da morte de uma garota.




“Você vai morrer, dizia o homem morto. A puta vai morrer você vai morrer todos nós vamos passear juntos pela estrada da noite você vai cantar lá-lá-lá e eu vou ensiná-lo a cantar eu vou ensiná-lo.”
Judas Coyne é o nome desse astro do Rock que, após parte de sua banda morrer em diferentes circunstâncias excêntricas, resolveu deixar os palcos. Alguns anos depois, colecionando os mais bizarros objetos, desde um livro de receita canibal a uma fita de assassinato verídico, ele recebe um e-mail avisando sobre um leilão de um terno de um homem morto, possuindo um fantasma de verdade.
Vendo a chance de ampliar sua coleção, resolve participar do leilão. Após a compra ter sido efetuada e o terno ter chegada à residência do cantor, coisas horripilantes começam acontecer. Temendo a própria morte, o astro foge com a namorada Geórgia, tentando sobreviver à Estrada da Noite.
“Subiu a escada e começou a voltar pelo corredor em direção ao quarto. Seu olhar bateu num homem velho, sentado numa antiga cadeira Sharker encostada na parede. Assim que o viu, seu pulso disparou em sinal de alarme. Jude se virou para o lado, fixou o olhar na porta do quarto e só continuo a enxergar o velho pelo canto do olho. Nos momentos que se seguiram, ele sentiu que era questão de vida ou morte não estabelecer contato visual com o homem, não demonstrar que o via. Ele não estava vendo nada, Jude disse a si mesmo. Não havia ninguém ali.” (p.24)
Após muitas reviravoltas e uma fuga alucinada, a verdade se torna confusa, e o real motivo para a perseguição do fantasma é revelado. Cabe a Coyne e sua atual namorada descobrir uma maneira de mandar o morto descansar em paz.
O início da obra é entediante, podendo deixar o leitor tentado a desistir da leitura. Porém, a partir do momento que Jude e Geórgia saem de casa, a história antes monótona se transforma em uma viagem ao terror. É impossível ao leitor não sentir pavor e aflição na perseguição do morto. A forma com que Hill narra à história é espetacular. Os elementos escolhidos na narrativa constituem um misto de suspense e pavor que prende o leitor até as últimas páginas. A história é capaz de tirar o sono até mesmo dos leitores de terror mais exigentes.
O desenvolvimento do protagonista ao decorrer da história é algo que merece destaque, uma vez que a cada momento descobrimos mais sobre a história deste e de seus próprios demônios. No início da obra, é possível sentir raiva de Jude, enquanto no final, solidariedade e piedade, além do desejo que tudo dê certo para ele e Geórgia. Outro ponto extremamente interessante e surpreendente foi entender o real motivo da perseguição do fantasma, além da verdade daquilo que o “tal pai amoroso” fazia com suas filhas.
As conexões feitas ao decorrer da obra são fascinantes, incluindo reparar que desde o início Hill constrói uma história coerente e coesa que permite ao leitor coletar pistas para desvendar o final antes de o mistério ser resolvido.
 A Estrada da Noite, apesar de ser uma obra pouca conhecida, é esplendorosa. A cada página há um bombardeamento de talento e estilo próprio. Engana-se quem pensa que Joe Hill vende suas obras apenas por ser filho de SK. O escritor tem um T a mais, um talento natural.
Só existem reclamações quanto à edição. Embora possua páginas amarelas na edição normal, a capa do livro é mole e maleável, o que propicia no surgimento de pontos amassados. A arte da capa é simples demais para um livro tão complexo, e pobre demais para uma obra tão rica. Um capricho maior da editora talvez atraísse para o livro a atenção merecida.

 Ayllana Ferreira

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